segunda-feira, 19 de março de 2012

O caminho e o caminhar



Respostando do blog antigo, texto "velho" mas nem por isso empoeirado ;-)

Boa Leitura!



O que acontece no paganismo, onde alguns usam do pouco que sabem para tirar algum proveito e explorar aqueles que buscam de coração sincero por um caminho ou filosofia que melhor satisfaça os anseios da alma, leva a questionar os porquês de tantos desencontros e desencantos em uma busca que deveria conduzir a plenitude.
Há ovelhas e pastores, existem os buscadores e os facilitadores de buscas, há os que escutam e os que falam, os que tiram suas conclusões e os que esperam que os mestres dêem as conclusões a eles.
Quando o buscador questiona oque faz de sua vida e quando a primeira impressão que tem é que está vivendo um grande auto-engano, logo culpa a família, a religião e a sociedade pelas suas inquietações, entretanto alguns percebem que o tempo da infância passou e que agora é preciso assumir a direção em sua estrada, domar seus cavalos selvagens e guiar-se por um caminho mais consistente, e quando a força de sua dúvida é maior do que a fé cega em sua antiga crença, ele se lança em busca de novas respostas.
Aqueles que seguiam o rebanho, as ovelhas que agora se rebelam e querem se tornar lobos, deixam de ir junto ao pastor e passam a seguir ao líder da matilha.
Porém como sempre esteve habituado a receber tudo explicadinho, continua procurando alguém que lhe dê as novas respostas e é nessa hora que pode se tornar vítima daqueles que tiram proveito do pouco que sabem para ludibriar aqueles que querem saber mais, caindo no fluxo das correntezas que levam aqueles que não prestam atenção no fato de que tudo o que já escutou antes é o mesmo que está ouvindo agora em nova forma e com outras palavras, elaboradas para manter o engodo e favorecer uns em detrimento de outros.
O Lobo aprisionado [...]”
Muitos se perdem pelo caminho, isso acontece quando param de refletir e creem já ter encontrado aquilo que buscavam, todavia a luz que ilumina é a mesma que cega e alguns imaginando já ter chegado ao final da estrada, quando olham para trás e enxergam tantos outros em passos trôpegos como já foram os seus próprios, tornam-se tão enganados quanto enganadores, deixam de ser um caminhante para se tornar uma barreira no meio da estrada, um obstáculo a ser vencido pelo verdadeiro caminhante.
[...] Estando o lobo aprisionado na sala de espelhos e não suportando ver-se mil vezes refletido, num derradeiro uivo arranca com as patas a máscara e o escafandro que sempre portou. E por uma fração de segundos, a luz bruxuleante de sua alma candente permite que ele veja, em cada espelho-quantun do seu ser, o que nunca havia deixado de ser: [...]
O que se vê no paganismo é uma infinidade de informações e pessoas naufragando num mar de palavras, no qual poucos têm habilidade para nadar em direção de uma ilha onde poderão descansar, ou de um porto seguro de onde prosseguir sua caminhada com passos firmes e um solo forte sob os pés, e por achar em novos mestres a ilusão das respostas pelas quais procurava torna-se uno com o novo bando e despersonaliza-se novamente, então pára sua busca, fica novamente estacionado e muitas vezes só percebe que continua no mesmo ponto do qual partiu, quando já é tarde demais.
[...] Um simples cordeiro. [...]
Já o questionador escuta, pensa sobre o que ouviu e quando tem argúcia compreende o quanto continua estacionário sem se dirigir a rumo algum, contudo quando a força de sua coragem é maior do que seu desânimo perante os obstáculos, continua a busca a despeito dos tropeços, naturais nos primeiro passos em qualquer caminho desconhecido.
"[...] E enquanto a lei da Entropia se consumava, podia-se sentir as vibrações da Harpa Celestial e ouvir o coro de infinitas vozes a repetir por toda a eternidade: Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo dai-nos a paz.[...]
Algumas pessoas perguntam, outras querem dar respostas, no entanto, poucas são capazes de perceber as particularidades e individualidades de cada questão. Dentro de um caminho onde o sonho de uns pode ser o pesadelo de outros, aqueles que se aventuram em busca do conhecimento devem ter estrutura forte o suficiente para passar pelas agruras do com motivação crescente e prosseguir sabendo que ainda falta muito caminho a trilhar.
[...] E a hiena, então, sorriu.
Superado um dos primeiros grandes obstáculos, que é o de depositar sua esperança em outrem, o caminhante percebe que seu caminho pessoal é também individual e é dele mesmo, bem como que o único reservatório de forças para Si é em Si mesmo que encontrará. Assim já pode começar sua busca com segurança de estar verdadeiramente indo em alguma direção.

A atenção e cuidado com o caminhar, a partir desse momento em diante, evitará muitas quedas e trará grande experiência, o Peregrino deixará de olhar para o horizonte distante na trilha onde segue como se aquele ponto fosse a meta final, porque sabe que a cada passo que dá, o horizonte também se movimenta para mais longe e então aprenderá a contemplar as margens do caminho, as peculiaridades da estrada, subidas e descidas, descansos e encontros.

“Para mim só existe percorrer os caminhos que tenham coração, qualquer caminho que tenha coração, ali viajo e o único desafio que vale é atravessá-lo em toda a ma extensão. E por ali viajo olhando, olhando, arquejante.”

Enquanto prossegue percebe que cada caminho é diferente e desde o momento em que se decidiu e dedicou por este caminho, aquele outro que era uma opção antes de iniciar seu trajeto, ficou para trás, em outra parte, em outras montanhas e em outros vales. Não está sob seus pés, mas por não ter passado o tempo todo olhando para o inicio de diversas estradas tentando enxergar o mais longe possível em cada uma delas e sim ter iniciado um trajeto e seguido em frente, poderá falar com segurança sobre um caminho que terá trilhado e se tornado parte dele.

Refletindo sobre os lugares onde passou, o caminhante percebe que o propósito que move as pessoas em busca de respostas para suas indagações, as leva primeiro a revolta contra sua situação, depois a busca de uma situação nova, nessa busca muitas vezes elas não passam dos primeiros passos, algumas das que não prosseguem se arvoram em sábios e acabam sendo charlatães, outras desistem, outras pegam atalhos que conduzem de um caminho a outro e terminam por não conhecer nenhum, outras mais continuam perscrutando um horizonte que não percebem ser inatingível e na ilusão da chegada a uma sólida meta definida, perdem a fluidez que deveriam ganhar na caminhada e que poderia transportá-las além de limites incomensuráveis, ou até onde não há mais limites.

Sabendo que tudo o que passar, o que fizer, o que viver, valerá para si e ciente de que tudo o que contar e tudo que disser servirá apenas como recordação de seu caminho em estímulo a caminho no coração de outros Peregrinos e companheiros de jornada, o Buscador prossegue.


Nota 1: A pequena historia do “Lobo aprisionado” dividida seqüêncialmente em algumas citações do texto é de autoria de Fr. Aamon.

Nota 2: A citação do caminho com o coração consta no livro “A Erva do Diabo” de autoria de C. Castaneda, que atribui a frase a Don Juan Mathus


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sábado, 17 de março de 2012

O pássaro Fênix

No jardim do Paraíso,
debaixo da Árvore do Conhecimento
nasceu uma roseira.
Aqui, na primeira rosa, um pássaro nasceu,
seu vôo era como um brilho de luz
sua plumagem era bela, e sua canção encantadora.

Mas, quando Eva arrancou a fruta da Árvore
do Conhecimento do bem e do mal,
quando ela e Adão
foram levados do Paraíso,
ali caiu, da espada flamejante do Querubim,
uma faísca no ninho do pássaro

que inflamou imediatamente.

O pássaro pereceu nas chamas
mas, do ovo vermelho do ninho
ali, agitou-se em vôo, um novo pássaro
o solitário Pássaro Fênix.
A fábula conta que ele mora na Arábia
e que a cada cem anos
ele arde em chamas até a morte em seu ninho;

Mas, a cada vez um novo Fênix,
o único no mundo
nasce do ovo vermelho,
o pássaro ao nosso redor,
rápido como a luz,
belo na cor,
charmoso na canção.

Quando uma mãe, senta-se na frente do berço de seu filho,
ele fica no travesseiro,
e, com suas asas,
forma uma deferência ao redor da cabeça da criança,
ele voa pelos aposentos de satisfação
e traz o brilho do sol a eles
e as violetas na humilde mesa
tem o perfume duplamente doce

Mas o Fênix não é o pássaro
somente da Arábia
Ele faz seu caminho no brilho
das luzes no Norte
sobre as planícies da Lapônia
e saltita na flores amarelas
no curto verão da Groenlândia.

Abaixo das montanhas de cobre de Fablun
e das minas de carvão da Inglaterra, ele voa,
na forma de traça coberta de poeira
sobre o livro de hinos
que repousa nos joelhos do mineiro devoto.
Numa folha de lótus ele flutua
nas águas sagradas do Rio Ganges
e, no olho de uma jovem Hindu
brilha quando ela o vê

O pássaro Fênix, você não o conhece?
O Pássaro do Paraíso
o cisne sagrado da canção
no carro de Thespis ele sentou-se
disfarçado
de um falante corvo
e bateu suas negras asas
manchadas com vinho;
sobre o som da harpa na Islândia
tocada com o bico vermelho do cisne;
no ombro de Shakespeare ele sentou-se
disfarçado do corvo de Odin,
e sussurrou no ouvido do poeta
“Imortalidade”!
E na conquista do bardo ele voou
Através dos salões de Wartburg.

O pássaro Fênix, você não o conhece?
Ele cantou para você a Marselhesa
e você beijou a pena
que caiu da sua asa;
ele veio no brilho do Paraíso
e talvez
você desviou-se dele
em direção ao pardal que sentou-se
com brilho cintilante em suas asas

O pássaro do Paraíso
renovado a cada século
nascido da chama!
Sua pintura,
em uma moldura dourada,
pendurada nos salões dos ricos
mas, você mesmo com freqüência voa ao redor
solitário e indiferente,
um mito—
“O Fênix da Arábia”!

No Paraíso,
Quando você nasceu da primeira rosa,
Sob a Árvore do Conhecimento,
Você recebeu um beijo
E seu nome foi dado a você
--seu nome:

Poesia. 
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quarta-feira, 14 de março de 2012

O bambu



Do blog da Luna Peregrina


Depois de plantada a semente deste incrível arbusto não se vê nada por aproximadamente 5 anos, exceto o lento desabrochar de um diminuto broto a partir do bulbo.

Durante 5 anos todo o crescimento é subterrâneo, invisível a olho nu, mas uma maciça e fibrosa estrutura de raiz, que se estende vertical e Horizontalmente pela terra está sendo construída. Então, no final do 5º. Ano o bambu chinês cresce até atingir a altura de 25 metros.

Um escritor de nome Covey escreveu: muitas coisas na vida pessoal eprofissional são iguais ao bambu chinês.

Você trabalha, investe tempo, esforço, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento, e às vezes não vê nada por semanas, meses, ou anos. Mas se tiver paciência para continuar trabalhando, persistindo e nutrindo, o Seu 5º Ano chegará, e com ele virão um crescimento e mudanças que você jamais esperava.

O bambu chinês nos ensina que não devemos facilmente desistir de nossos projetos, de nossos sonhos, de nosso trabalho, especialmente de um projeto fabuloso que envolve mudanças... de comportamento, de pensamento, de cultura e de sensibilização.

Devemos sempre lembrar do bambu chinês, para não desistirmos facilmente diante das dificuldades que surgirão.

Procure cultivar sempre dois bons hábitos em sua vida: a persistência e paciência, pois você merece alcançar todos os seus sonhos!!!

É preciso muita fibra para chegar às alturas e ao mesmo tempo muita flexibilidade para se curvar ao chão.

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sexta-feira, 9 de março de 2012

As Bruxas de São Paulo


O Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo é um tesouro histórico conhecido por poucos. Protegidos do pó em estantes de cedro, 9 000 processos cíveis e criminais permitem rara olhada na intimidade da vida cotidiana em São Paulo, sul de Minas e Paraná entre 1632 e 1856.  

Em meio a 10 milhões de registros de batizados, aparece o de Maria Izabel de Alcântara Brasileira, em 24 de maio de 1831. Supõe o historiador Jair Mongelli, chefe do arquivo, que se trata da filha ilegítima de dom Pedro I e Domitila de Castro Canto e Melo, a marquesa de Santos. "O nome está grifado", nota. Há também processos de adultérios, concubinatos, sacrilégios, sodomia, sexo com animais e até mesmo de promessas de casamento não cumpridas.

Preso em 1765, um certo Manoel Rodrigues Jordão justificou a dispensa de Joana Machado de Siqueira alegando que a moça não tinha dentes, dinheiro ou formosura. Um fiel da paróquia de Guarulhos, hoje município da Grande São Paulo, foi acusado de ter ouvido missa "vestido de mulher" em 1744. No decorrer do processo, descobriu-se que "o menor" Joaquim José não tivera a intenção de se passar por travesti. Tão pobre que não tinha o que vestir, ele improvisou com roupas de suas irmãs. 

Acabou absolvido. 

As bruxas paulistas

Por Sandra Boccia (revista veja) 


"Seja remetido este sumário por duas vias ao Tribunal do Santo Ofício da cidade de Lisboa na forma do estilo de cuja entrega se pedirá recibo que será remetido a este juízo. São Paulo, 18 de março de 1750."
Documentos mostram como a Igreja saiu à caça
de feiticeiras em São Paulo no século XVIII 


Páscoa era uma escrava paulistana que usava pedacinhos de unha, fios de cabelo e excrementos humanos para enfeitiçar e matar. Depois de fazer um pacto com o demônio, ela tornou-se uma espécie de serial killer do século XVIII, matando cinco pessoas. 

Essa história fantástica consta dos autos da investigação sobre seus crimes, da qual a Justiça Eclesiástica de São Paulo se ocupou durante dez meses. Finalmente, em 30 de julho de 1750, o juiz assinou a sentença: o caso deveria ser encaminhado à Inquisição, em Portugal. 

O destino de Páscoa nas mãos do Santo Ofício, que costumava condenar bruxas à morte na fogueira, ainda é um mistério. Processos recém-redescobertos nos arquivos da arquidiocese mostram que entre 1749 e 1771 nove mulheres (Páscoa entre elas) e quatro homens foram acusados de feitiçaria em São Paulo. 

Salvos de um incêndio e esquecidos por décadas dentro de um baú de metal, esses documentos inéditos revelam episódios sombrios e pouco estudados da História nacional: a caça às bruxas conduzida pela Igreja Católica há mais de 200 anos. "Trata-se de uma descoberta revolucionária", diz a historiadora Mary Del Priore, professora de história do Brasil colonial na Universidade de São Paulo, USP. "Essa documentação serve para iluminar um território que ainda continua nas sombras." 

Os treze processos por feitiçaria, manuscritos em delicada fibra de pano e carcomidos pelo tempo, mostram como as autoridades eclesiásticas brasileiras seguiam à risca a cartilha da Inquisição portuguesa. Do século XVI ao XVIII, o Tribunal do Santo Ofício puniu com severidade qualquer suspeita de desvio em relação à doutrina católica, incluindo aí a magia. 

Nunca chegou a se estabelecer na colônia brasileira e seus enviados especiais os Visitadores só estiveram nas capitanias prósperas como Bahia, Pernambuco e Grão-Pará. Em São Paulo, na época um pobre aglomerado de sessenta ruas contornadas pelo Rio Tamanduateí e seu afluente, o Anhangabaú, a caça às bruxas ficou por conta do clero local. 

Num processo aberto em 1767, Isabel Pedrosa de Alvarenga, moradora de Santo Amaro, foi acusada por um dos espiões da Igreja (chamados de "familiares do Santo Ofício") de dispor de um saco de coisas abomináveis para exercer atividades diabólicas. Umbigos de crianças, bicos de pássaros, cabelos e panos ensopados em sangue eram o tesouro desta mulher que vivia de esmolas e jamais admitiu ser uma bruxa. 

As acusadas eram normalmente pobres coitadas como Isabel, mais preocupadas com o sustento do dia-a-dia do que em prejudicar alguém. Eram parteiras, lavadeiras de mortos, benzedeiras, curandeiras e adivinhas típicas profissões femininas da época. "O próprio saber feminino era visto como bruxaria", diz a historiadora Eliana Rea Goldschmidt, do Centro de Estudos de Demografia Histórica da América Latina da Universidade de São Paulo. A primeira leitura dos documentos de difícil compreensão devido ao português arcaico e à deterioração do papel foi feita pela historiadora a pedido de VEJA. 


As regras do Arcebispado da Bahia, editadas em 1707 numa tentativa pioneira de adequar as diretrizes católicas à colônia tropical, puniam os praticantes de magia com multas, excomunhão e degredo na África. A definição de magia era vaga e podia incluir qualquer acontecimento incomum. Em 1749, por exemplo, a Cúria paulista enviou a Portugal os autos de acusação contra Patrício Bicudo da Silva, colono de Santana de Parnaíba. O que tinha sido apurado contra ele era a estranheza de "trazer consigo cobras vivas nas mãos sem receber lesão alguma". Num processo arquivado na Cúria, de 1771, Leonor de Siqueira e Moraes e sua filha, Ana Francisca, foram acusadas de usar "líquido menstrual" para transformar Manoel José Barreto, marido de Ana, num "pateta". 

O exílio no Brasil foi pena comum imposta às feiticeiras portuguesas. Isso encheu a colônia de benzedeiras e milagreiras. Apesar da quantidade de autos-de-fé em Lisboa, as cerimônias em que se queimavam hereges, a caça às bruxas foi mais branda em Portugal do que em outros países europeus, como a Alemanha. 

Todo o continente vivia assombrado por bruxarias. No auge da caça às bruxas, entre 1450 e 1700, estima-se que 20.000 pessoas foram queimadas vivas. A conclusão dos processos encontrados no Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo pode estar nas montanhas de papel armazenadas na Torre do Tombo, que guarda os documentos coloniais em Lisboa. Ou em lugar nenhum. Se Páscoa ou outras bruxas paulistas arderam nas fogueiras é, por enquanto, uma pergunta sem resposta.

Revista Veja - Edição 1619 - 13/10/99
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